segunda-feira, 5 de agosto de 2013

* Os Vasos Luo*

Os clássicos da Medicina Chinesa enfatizam a importância na compreensão da "transmissão" dentro do processo da doença. Não é o suficiente analisar uma condição isoladamente em seu estado atual. É preciso entender de onde veio e para onde ela poderia potencialmente progredir.
O Livro 2, capítulo 5 do Yi Jia Jing afirma que "Se não se entender a raiz e os limites da propagação das doenças, então o conhecimento da acupuntura é profundamente cortado" Os textos fundamentais da medicina chinesa clássica, ou seja, o Shang Han Lun e Nei Jing, dedicam muito tempo para discussão da progressão da doença. Um tratamento clássico deve abordar o passado, o presente e o futuro de uma condição patológica.
A Medicina Chinesa é uma medicina paliativa, preventiva e de convalescença, que ajuda a prevenir e curar doenças, bem como reconstruir e regenerar o corpo. De acordo com no clássico Shen Nong Ben Cao, a mais alta forma de medicina é considerada preventiva; ervas classificadas como preventivas são consideradas como as de "grau mais alto." O tratamento de uma doença manifestada é considerado como sendo de "grau inferior." Fórmulas com ervas são frequentemente compostas de ervas de todos os três graus, ou seja fazem o tratamento do atual estágio da condição, bem como da sua origem. Fórmulas muitas vezes tentam impedir a transmissão para estágios mais profundos de penetração da doença também. Acupuntura, praticada dentro da tradição clássica, formula combinações de canais e pontos da mesma maneira.
O Ling Shu faz uso dos sistemas de seis canais para ensinar a progressão da doença a partir do um ponto de vista da acupuntura. A compreensão da transmissão e progressão são fundamentais para a maioria das discussões dentro da medicina chinesa clássica. O Shang Han Lun é um tratado sobre a progressão da doença. Os canais primários, como ensinados no Ling Shu, também são um tratado sobre a progressão da doença. Eles não são apresentados como entidades segmentadas no Ling Shu, eles são vistos como um continuum, representando o processo patológico: da condição mais externa para a mais profunda e mais grave. Em vez de ver a progressão da doença em termos de "zonas": Tai Yang, Shao Yang, Yang Ming, como Shang Han Lun faz, o Ling Shu vê e analisa a progressão da doença através dos Canais Principais eles são acoplados em Metal, Terra, Fogo, Água, Fogo , Madeira: Do Pulmão ao Fígado.
Durante o tempo da Dinastia Han (206 aC - 220 dC), quando o Nei Jing e Shang Han Lun foram compilados, Vento e Frio eram tidos como as principais causas de patologias externas. Calor, Secura, Umidade e Calor do Verão eram consideradas transformações de Vento e Frio e, portanto, visto como secundários. Dentro do Ling Shu , o Canal de Pulmão é representativo de uma condição de Vento-Frio e por isso é designado o primeiro canal dentro do Continuum dos canais primários. A transformação de Vento-Frio para Vento-Calor e Vento-Umidade é representada pelo segundo canal no continuum: o Intestino Grosso. Penetração para o interior, criando uma condição de "excesso" interna é representada pelo Estômago. A tributação sobre o Qi e Sangue são representados pelos canais do Baço e Coração, respectivamente.
Ao nível do Intestino Delgado, um evento curioso ocorre dentro do corpo. O agente patogênico é absorvido ao terreno mais profundo do corpo em um estado de latência. O nível do Intestino Delgado representa um estado de Estase de Sangue. Ele também introduz o conceito de latência. Os pontos ID18 " Liao da Maçã do Rosto" e ID12 "Agarrar o Vento" representam a absorção de um fator patogênico não resolvido para o nível dos ossos, como representado pela escápula e ossos da face. A partir da discussão sobre Canais primários do Ling Shu, sugere-se que a latência pode envolver o Sangue e ossos.
Latência esconde um fator patogênico. Esta é a fase onde a condição patológica torna-se traiçoeira e misteriosa. O sistema imunológico do corpo pode estar numa condição de sobrecarga ou os humores do corpo continuamente deficientes, mas a causa disso pode ser obscura. Um agente viral ou bacteriano pode não aparecer nos testes sanguíneos ocidentais durante um estado de latência. No entanto, ao compreender a progressão da doença, um praticante de Medicina Clássica Chinesa deve ser capaz de explicar esses sintomas misteriosos. Muitos desses "misteriosos" sintomas são atribuídos aos Vasos de Luo e Canais Divergentes: Dois sistemas de canais que lidam com latência através do Sangue e Ossos.
Um acupunturista chinês com formação clássica pode argumentar que o conhecimento dos Canais Principais por si só não é suficiente para compreender os conceitos sutis de Medicina Chinesa, como o conceito de Latência. Os chamados "Canais Secundários" da acupuntura fornecem uma discussão mais aprofundada sobre o conceito de latência e como ela funciona dentro do corpo. Os vasos Luo e Canais Divergentes são dois sistemas de canais que fornecem a maior compreensão dos conceitos e de tratamento de latência. Eu gostaria de me concentrar principalmente na explanação sobre os vasos Luo.

Os Vasos Luo
Os Vasos Luo são canais de latência. Eles prendem os fatores patogênicos. Vasos Luo são condutos de Ying Qi "nutritivo": Sangue e fluidos corporais Jinye. Dentro da teoria dos "Cinco Pontos ShuTransporte" ou "antigos", o ponto Luo, localizado após o ponto Shu-Riacho , ilustra a função do Sistema de canais de vasos Luo. O ponto Shu-Riacho representa a divisão entre os níveis externos e internos do corpo. No momento em que um agente patogênico atinge o ponto Luo, ele já entrou no interior, o que sugere o exterior ,ou seja, o "nível Wei" falhou em manter a condição patológica no exterior. Nesta fase, há o perigo do agente patogênico entrar no ramo interno do canal principal onde irá ter acesso ao órgão Zang ou Fu. Do ponto Luo, um ramo "colateral" é formado para translocar o agente patogênico para longe do canal principal, onde pode ser mantido num estado de latência. Os vasos Luo usam "Ying Qi " para manter o estado de latência.
Os Canais Tendino-Musculares representam o nível mais superficial do Qi dentro do corpo: são condutos do Wei Qi "defensivo". Eles são a primeira defesa do corpo contra o meio ambiente e fatores  patogênicos externos. Wei Qi é apoiado por Ying Qi, produzido no estômago através dos fluidos Jinye.
Ele também é apoiado pelo yang qi, enraizado nos Rins.
O Nan Jing ensina, através dos princípios do Yin e Yang, o conceito de transformação mútua. Ying Qi apoia o "nível Wei" transformando-se em reforço para o Wei Qi. Quanto mais grave uma condição, mais os reforços são chamados. O Nan Jing também ensina que excesso leva à deficiência, e a deficiência leva à progressão da doença. Quando um fator patogênico é grave, ele pode criar deficiência, esgotando Wei Qi e os humores que o suportam.
A Escola do Shang Han Lun dá pistas sobre a progressão de uma condição externa no âmbito dos Estágios Yang. Dentro da fase inicial Tai Yang associada com "Vento-Frio", pode-se prever onde para onde provavelmente a patologia irá progredir com base em deficiências que já existem, ou naquelas que estão começando a aparecer. A progressão para a fase de Yang Ming baseia-se na porção leve dos fluidos Jinye ou seja no Jin produzido pelo estômago. Se os fluidos Jin esgotarem, é provável que a condição Tai Yang vai avançar para a fase de Yang Ming. Se nessa nova situação o Yang Qi for insuficiente ou tornar-se exaurido, a condição provavelmente irá seguir progredindo para Shao Yang.

Quando os canais tendino-musculares Yang falham, os patógenos se movimentam para os canais  tendino-musculares Yin, que estão localizados nas regiões do pescoço, tórax e abdômen. O Capítulo 5 do Ling Shu apresenta uma discussão interessante intitulada "Raízes e Terminações". Todos os canais de acupuntura dos membros inferiores são descritos como começando no ponto Poço/Jing e "terminando" em pontos específicos locais no corpo. Os canais Yang terminam na região da cabeça, os Canais Yin terminam na garganta, peito e do abdômen. As descrições dos canais nesse capítulo não são as dos Canais Principais, mas se assemelham muito mais com as dos Canais Tendino-Musculares, que também começam nos pontos Poço/Jing.

fonte: Ephraim Ferreira Medeiros
(www.medicinachinesaclassica.org)



terça-feira, 25 de junho de 2013

*Ponto E36*



O ponto E36 estudado na acupuntura é considerado um ponto de mil e uma utilidades, sendo por muitos usado em qualquer caso.
O ponto E36 tem um uso bem mais específico. Seu nome em chinês significa “três distâncias da perna”. Alguns acham que isso tem a ver com sua localização e  com relação a medidas em polegadas. Entretanto, este nome faz referência aos ideogramas usados para descrever seu nome.
Para podermos entender qual a ação energética deste ponto vamos antes contar uma história associada ao uso deste ponto:
“Era uma vez um monge que, depois de ter meditado durante longos anos no alto de uma montanha, atingiu o estado de iluminação. Neste estado de pureza, ele desce a montanha para poder divulgar a forma de se atingir o Nirvana aos moradores da vila onde nasceu.
Porém, os longos anos de meditação haviam feito com que suas pernas ficassem fracas. Faltando apenas 3 distâncias para chegar à vila, ele se senta à beira da estrada e, com um graveto, estimula o ponto E36, o que faz com que ele tenha mais vigor e consiga concluir a caminhada”.

Esta história fez com que muitos professores de acupuntura começassem a dizer que o ponto E36 fosse um ponto que daria mais energia às pessoas. Em parte isto está certo. Porém, não quer dizer que devemos usar este ponto sempre.
Vamos analisar melhor os ideogramas. No primeiro podemos identificar uma imagem que lembra um homem, com os braços à frente como em uma prece, descendo uma montanha. Este símbolo significa “perna”, mas nele podemos ver nosso monge, descendo a montanha após ter atingido seu estado de Santidade. Montanha, Céu, Santidade. Tudo isso tem a ver com a energia Ki Yang. O ponto E36 tem seu nome associado a este ideograma para poder dizer que ele capta o Ki Yang e o carrega. Mas para onde?
O terceiro ideograma significa “distância”, mas ele é formado por um sinal que também significa “vila”. As vilas eram representadas em quadros, onde se plantava arroz. Alimento que vem da terra e de onde extraímos a energia Xue, do Sangue.
Por fim, o segundo ideograma representa os 3 Aquecedores.
Eis aqui a função energética do ponto E36 na acupuntura.
Ele tonifica o Sangue com o Ki Yang, o que alimenta a carne e os músculos, o que fez nosso monge completar sua caminhada.
Assim, numa pessoa com falta de Ki Yang ou com um excesso de Yin Ki, o ponto E36 é útil.
Já, por exemplo, em uma criança hiperativa ou numa paciente grávida, este ponto não pode ser usado para fortalecer sua energia.

Fonte: Dr. Celso Iamamoto - http://www.ceab.pro.br/blog/acupuntura-e-moxabustao/ponto-e36/


segunda-feira, 17 de junho de 2013

*Curso de Tratamento por Acupuntura em crianças e recém nascidos*